Eu nunca fui contra o amor. Mas algumas formas de amor sempre
me assustaram mais que outras. E foi então que eu conheci um tipo de relacionamento
completamente novo: O que segue um roteiro.
Pelo amor de Deus, alguém me explica porque motivo alguém protocolaria
um relacionamento? “Vou aos mesmos lugares, digo as mesmas coisas, faço as mesmas
viagens, frequento os mesmo restaurantes, sigo a mesma ordem cronológica e
pronto. E esta escrito roteiro do meu
filme. Tudo que eu tenho a fazer é recriar o enredo com outros elencos. E está ótimo.
Ai os apelidos podem ser iguais e não corremos o risco de ter erros de gravação
por falha. O sexo é igual. As trilhas sonoras são iguais. O garçom na altura do
campeonato já sabe meu pedido (e me acha sensacional). As pessoas já estão
acostumadas. Minha mãe já deve ter perdido de vista, e se esforçar muito pra
lembrar o nome dos personagens da vez. E pronto...Permaneceremos assim nesse
mar de repetidos atos calculados, mesmo com uma infinidade de possibilidades
diferentes por ai. Mais melhor seguir o roteiro mesmo e ficar por aqui no senso
comum.”
Que grande horror !! Sinceramente me parece um filme de
terror ruim. De péssimo gosto. Justo eu que odeio filme de terror, e sensos
comuns.
Eu jamais poderia roteirizar um relacionamento. Alias, eu
sempre fui do tipo de pessoa que mantinha exclusivo até os apelidos
carinhosos... Fico até com medo de isso também ter sido protocolado. Jamais faria qualquer coisa igual, iria nos
mesmos lugares, faria as mesmas comidas a luz de velas, se vacilar reutilizando
as próprias velas e uma dose de doces palavras de um texto que eu passei a
manha inteira decorando. Não, eu realmente não poderia. Me falta capacidade pra
tal. Força de vontade de desenhar o mesmo lugar em perspectivas diferentes.
Porque na altura do campeonato eu já odeio a paisagem, sob qualquer perspectiva.
Odeio a cidadezinha pacata com aquelas casinhas iguais ( o projeto arquitetônico
por um acaso é seu?), odeio os restaurantes modinhas, odeio os filmes, as
músicas lindas e beeem verdadeiras que falavam mesmo de um tal faz de conta que
acaba fatalmente assim, odeio aquele pagode ridículo que virou trilha sonora eu
nem sei porque. Odeio tudo que tem você na frase. Porque recordar pra mim é
perder tempo, cherrie. E digo mais, se você fosse uma novela mexicana, seria aquela mais
vagabunda com o Carlos Eduardo como personagem principal, pra ser bem clichê.
Jamais deixaria fazer novas coisas e
escrever novas histórias. Ver um filme novo. E criar nova trilha sonora.
Escandaliza-me a tal postura de protocolar os sentimentos
dos outros como marionetes. Sem nem mesmo avisar: “Olha ratinho de laboratório,
você gostaria de participar e se afundar na areia movediça que eu criei como
filme e te escolhi pra afundar ali?” .Não! Pra quê? Nada num próprio tempo.
Nada em outros cenários. Nada de diferente. Tudo igual e etiquetado.
Me mata, sim, pensar
nos gráficos de resultados. Daqueles que a gente costuma fazer em varias
amostras pra chegar a uma estimativa. Me aborrece ser numero, ser fatia do seu
gráfico de pizza, ser um dado na sua maldita pesquisa. Mas me dá mesmo é pena. E
me consolo com o óbvio. Pois no poema mais famoso do mundo, amor, o cientista
louco, protocolou tanto que se esqueceu do fim, e acabou sozinho. E agora José?