quarta-feira, 23 de julho de 2014

Desabafo: Contra a falta de originalidade e a protocolização do amor.



Eu nunca fui contra o amor. Mas algumas formas de amor sempre me assustaram mais que outras. E foi então que eu conheci um tipo de relacionamento completamente novo: O que segue um roteiro.
Pelo amor de Deus, alguém me explica porque motivo alguém protocolaria um relacionamento? “Vou aos mesmos lugares, digo as mesmas coisas, faço as mesmas viagens, frequento os mesmo restaurantes, sigo a mesma ordem cronológica e pronto. E esta escrito  roteiro do meu filme. Tudo que eu tenho a fazer é recriar o enredo com outros elencos. E está ótimo. Ai os apelidos podem ser iguais e não corremos o risco de ter erros de gravação por falha. O sexo é igual. As trilhas sonoras são iguais. O garçom na altura do campeonato já sabe meu pedido (e me acha sensacional). As pessoas já estão acostumadas. Minha mãe já deve ter perdido de vista, e se esforçar muito pra lembrar o nome dos personagens da vez. E pronto...Permaneceremos assim nesse mar de repetidos atos calculados, mesmo com uma infinidade de possibilidades diferentes por ai. Mais melhor seguir o roteiro mesmo e ficar por aqui no senso comum.”
Que grande horror !! Sinceramente me parece um filme de terror ruim. De péssimo gosto. Justo eu que odeio filme de terror, e sensos comuns.
Eu jamais poderia roteirizar um relacionamento. Alias, eu sempre fui do tipo de pessoa que mantinha exclusivo até os apelidos carinhosos... Fico até com medo de isso também ter sido protocolado.  Jamais faria qualquer coisa igual, iria nos mesmos lugares, faria as mesmas comidas a luz de velas, se vacilar reutilizando as próprias velas e uma dose de doces palavras de um texto que eu passei a manha inteira decorando. Não, eu realmente não poderia. Me falta capacidade pra tal. Força de vontade de desenhar o mesmo lugar em perspectivas diferentes. Porque na altura do campeonato eu já odeio a paisagem, sob qualquer perspectiva. Odeio a cidadezinha pacata com aquelas casinhas iguais ( o projeto arquitetônico por um acaso é seu?), odeio os restaurantes modinhas, odeio os filmes, as músicas lindas e beeem verdadeiras que falavam mesmo de um tal faz de conta que acaba fatalmente assim, odeio aquele pagode ridículo que virou trilha sonora eu nem sei porque. Odeio tudo que tem você na frase. Porque recordar pra mim é perder tempo, cherrie. E digo mais, se você fosse uma novela mexicana, seria aquela mais vagabunda com o Carlos Eduardo como personagem principal, pra ser bem clichê. Jamais deixaria  fazer novas coisas e escrever novas histórias. Ver um filme novo. E criar nova trilha sonora.
Escandaliza-me a tal postura de protocolar os sentimentos dos outros como marionetes. Sem nem mesmo avisar: “Olha ratinho de laboratório, você gostaria de participar e se afundar na areia movediça que eu criei como filme e te escolhi pra afundar ali?” .Não! Pra quê? Nada num próprio tempo. Nada em outros cenários. Nada de diferente. Tudo igual e etiquetado.
 Me mata, sim, pensar nos gráficos de resultados. Daqueles que a gente costuma fazer em varias amostras pra chegar a uma estimativa. Me aborrece ser numero, ser fatia do seu gráfico de pizza, ser um dado na sua maldita pesquisa. Mas me dá mesmo é pena. E me consolo com o óbvio. Pois no poema mais famoso do mundo, amor, o cientista louco, protocolou tanto que se esqueceu do fim, e acabou sozinho. E agora José?

Quem sou eu

Minha foto
Belo Horizonte, MG, Brazil