Tem muito tempo que não saio de casa, o dia pela janela me
parece gélido e eu desanimo. Ontem dormi escutando você me dizer pra contar
carneirinhos. Em meio ao sorriso nos lábios e os olhos cheios d’água. Deve ser
assim que se sente um viciado, privado do próprio vício e das sensações que ele
lhe trás.
Vez em quando sente aquela agonia, a velha e permanente
vontade de gritar. O coração vai ficando pequeninho e na garganta existe um
nó, que não quer desatar. Ainda acho
que deve ser assim que se sente um viciado. Privado de sentir o efeito que a
droga lhe causa.
Você não deu notícias ontem, e o telefone permaneceu sem
sinal o dia todo. Pode ser uma interferência Divina, ou mesmo um motivo pra que
meus dedos não digitem os números. Se não pega, não adianta.
Fiquei pensando sobre ir pra lá. Talvez fosse bom respirar
novos ares e conhecer gente nova. Ver o lado diferente do meu mundo, do qual
nunca se teve intenção de participar. Mas alguma coisa dentro de mim se recusa
a terminar as malas, e pegar o ônibus para partir.
Troquei todos os móveis do quarto de lugar. Arrumei os
cabides e as gavetas. Resolvi pintar a parede, dar vida ao lugar e tornar mais
meu. Mas tive a infelicidade de te contar isso e seu desprezo pelo projeto me
contagiou. Talvez outro dia.
Tomei banho, lavei os cabelos, fiz as unhas e estou com
preguiça de pintar. Na verdade, não há motivos pra isso, pois não há ninguém
pra ver e elogiar. Se bem que elogiar nunca foi seu forte, mas você presta atenção
em tudo, então provavelmente iria notar. Estive pensando em cortar o cabelo.
Mudar a cor e o movimento. Mas isso dá muito trabalho e eu me canso da ideia.
O nó na garganta nem cogitou em desatar, e eu ainda acho que
isso deve ser uma espécie de teste de resistência pra ver quanto tempo aguenta
um viciado privado do vício, um cego privado dos outros sentidos.
Estive pensando em dar uma chance a ele. Ver o que vai dar e
conhecer um mundo diferente. Mas ele é príncipe demais, e ser princesa me
consumiria todo o restante de energia que eu ainda tenho. Desanimo novamente.
Pensei em chamar uns amigos pra uma disputa de baralho e um
filme com pipoca e brigadeiro. Mas essa maldita dieta corta todas as calorias
do programa e os amigos... bom, o primeiro nome que me vem a cabeça se encontra
a milhas e milhas daqui, com um oceano no meio. Parece-me impossível.
Fico pensando quando você vai abrir o jogo e me contar que
se apaixonou por alguém no meio do caminho. E mais uma vez me dou conta de que
abrir o jogo nunca foi seu forte, e que da sua boca, eu nunca vou saber.
Todo mundo decidiu me ligar hoje, mas obviamente eu não
quero falar com ninguém. Então só olho visor do celular, numa esperança falida
de que lá estejam os oito números que eu gostaria de ver. Mas até agora, nenhum
foi. Infelizmente hoje o telefone tem área, e isso é um péssimo sinal.
Acho a minha esperança bonita, embora inútil e
autodestrutiva. Não há muito que fazer sobre ela. Então desisto. Vou ver o
decimo quinto filme da semana, com a lição do que vi por ultimo na cabeça: “ As
coisas mais importantes que você tem na vida, o dinheiro não compra. E não há
nada que você possa fazer respeito.”
“ As coisas mais importantes que você tem na vida, o dinheiro não compra. E não há nada que você possa fazer respeito.”
ResponderExcluirFato !